Faaala cambada! Como vamos?
Como dá pra ver, eu ainda estou transbordando de energia,
acho que isso tem a ver com a comida de minha mãe. Ou então com este livro que
acabei de ler.
Deixem-me apresentar A Menina que Navegou ao Reino Encantado.
Setembro é uma menina que tem uma vida um tanto chata e meio
triste. Seu pai está na guerra e sua mãe trabalha numa fábrica de motores o dia
inteiro, de modo que Setembro passa boa parte do dia sozinha fazendo as tarefas
de casa... Seja como for, o livro começa desse jeito:
“Era uma vez uma menina chamada Setembro que ficou
totalmente enjoada de sua casa (...). Por que ela tinha nascido em Maio e por
ter uma verruga na bochecha esquerda e pés muito grandes e sem graça, o Vento
Verde ficou com pena dela e, num final de tarde, voou para a sua janela, logo
depois de seu aniversário de doze anos.”
Então Setembro, sem pensar duas vezes, aceita ser arrebatada
pelo Vento Verde, sobe na garupa do Leopardo das Pequenas Brisas e parte para o
Reino Encantado.
A historia que começa assim se desenrola contando as
aventuras de Setembro no Reino Encantado, um lugar cheio de peculiaridades e
das coisas mais estranhas possíveis.
O livro é escrito em terceira pessoa, mas mostra exatamente
a visão de Setembro das coisas, inclusive usando o tipo de linguagem que uma
menina de 12 anos que adora aventuras e se esforça para parecer mal-humorada
usaria. Uma coisa bem legal é que Setembro não conhece o Reino Encantado, assim
como nós leitores. Então quando ela chega lá ela é tratada com condescendência ou
arrogância por não saber de nada. E assim o Reino Encantado vai sendo
apresentado para Setembro e para nós ao mesmo tempo. Mas o tempo todo se tem a
impressão de que tudo é muito obvio. Como a gente pode viver sem saber disso?
Em alguns momentos a Narradora aparece no texto, mostrando
outras cenas ou explicando coisas, o que é uma vantagem em relação a Setembro
que não sabe absolutamente nada, coitada... Mas, mesmo quando Catherynne M.
Valente (a autora) toma a atenção para si, ela brinca com o fato de ser
onipotente e de poder contar o que quiser, já que a historia é sua. Ela faz
isso de maneira tão suave que tudo flui. É tudo muito natural e agradável.
Catherynne M. Valente consegue cativar pela sua forma simples e natural de
narrar, você não se cansa em nenhum momento.
Por outro lado a historia de Setembro não tem pausa nem
descanso. É uma aventura atrás da outra e a menina só tem tempo para respirar
nas horas que envolvem alguma comida.
Os personagens do livro são todos estranhos, diferentes. Até
seus nomes são diferentes, eles variam entre Setembro, Sábado, A até L, Até
Logo, Vento Verde, Sr. Mapa... Todos os nomes são assim incomuns, assim como os
personagens são incomuns. Mas de algum jeito todos acabam cativando de algum
jeito. Com suas excentricidades e simplicidade. Até a Vilã da historia, que é
má o tempo todo, acabou me cativando. Eu posso dizer que fui arrebatado junto
com Setembro. Os personagens cheios de
peculiaridades e características diferentes, os cenários mais loucos ainda, que
só um Reino Encantado poderia ter. Dá pra imaginar tudo. Percebi que toda vez
que abria o livro tinha um sorriso involuntário nos cantos da boca.
Bem, só o que contei até agora já seria o bastante pra
mostrar que o livro é bom. Mais uma coisa é que, logo na capa, tem uma citação
em que Neil Gaiman diz assim: “Uma historia feita com coração e sabedoria”. Mas
eu deixei o melhor pro final. Deixe-me mostrar as coisas que mais gostei no
livro.
- Todo capítulo tem ilustrações lindas feitas por Ana Juan.
- Falando de capítulos, os títulos também são diferentes. Todos
eles têm o titulo do capitulo e um subtítulo que aguça (e muito) a curiosidade.
Então além de ficar empolgado com a historia, você não consegue largar do livro
porque a cada novo capitulo, a pequena frase que fica embaixo do titulo te
deixa quase desesperado pra saber o que vai acontecer.
- A melhor parte de todas é que o livro consegue ser
simples, mas dar lições importantes. Ele é cheio de alegorias, metáforas e
frases que conseguem mexer com o coração. Ou seja, Catherynne M. Valente
consegue reproduzir o efeito que a crianças tem sobre o mundo. Ensinando as
maiores lições de forma simples e despretensiosa. Separei um trecho, olha só:
“(...) não se deve julga-la, nenhuma criança tem coração (...)
e é por isso que podem subir em árvores altas, dizer coisas chocantes e pular
tão alto (...). Os corações pesam muito. É porque eles levam muito tempo para
ser cultivados. Mas, como acontece com a leitura, a matemática e o desenho,
crianças diferentes avançam em velocidades diferentes. (É sabido que a leitura
é o que mais acelera o crescimento de um coração).”
Tem vários outros trechos que são bem assim. Mas isso você vai
ter que descobrir sozinho. Suba no Leopardo das Brisas Leves e descubra o Reino
Encantado.
=D
Bem, vamos aos
Critérios de Avaliação
a) Arte da Capa: É uma brochura como a maioria dos
livros que saem aqui no Brasil. Mas tem uma ilustração muito legal feita pela
Ana Juan e adaptada pela Simone Villas Boas. A ilustração é emoldurada pelo
titulo que é um tanto grande, mas a arte está em perfeito equilíbrio, de modo
que a capa não fica poluída e chama atenção. As orelhas e as lombadas também
tem uma moldura, oque, junto com a cor vermelha e a textura do fundo, dá uma impressão
de capa dura, como aqueles livros enormes de contos de fada.
b) Trama: A historia é cheia de aventura e emoção.
Setembro não fica parada um momento sequer. O final da historia é realmente
surpreendente, eu imaginei quase todas as hipóteses, menos o que acontece de
verdade. A autora também deixa bastante espaço para novas aventuras, então você
fica com um gostinho de quero mais.
c) Caracterização dos Personagens: Como já disse, todos
são bem diferentes e peculiares, é divertido conhecer eles. As suas roupas,
trejeitos e características também são ótimas de imaginar.
d) Qualidade do Livro (papel, letra, erros, etc.): Sim, esse
livro tem colofão¹! \o/ .O papel é pólen,
aquele amarelado e poroso que é bem levinho. É ótimo de pegar, fácil de virar
as paginas e não pesa nada. A tipografia não tem serifa², mas tem equilíbrio,
boa proporção e um bom espaçamento. Então dá pra ler sem cansar.
e) Comparação com outras obras do Gênero: Sobre o gênero,
imagino que esse seja um clássico de fantasia. Mas, como disseram as pessoas
importantes que são citadas na orelha do livro, essa é uma história que alcança
qualquer pessoa de qualquer idade. É um achado que tem a audácia de se comparar
com O Mágico de OZ e Alice no País das Maravilhas.
Nota: 5
1 - Colofão é um pequeno paragrafo que fica na ultima pagina do livro. Ele geralmente mostra termos técnicos, como o tipo de papel, a tipografia usada, onde foi impresso e para que editora.
2 – Serifa é aquele rabinho que algumas famílias tipográficas
têm. Ele dá uma impressão de chão e direciona o olhar de uma letra pra outra,
facilitando a leitura.
Resenha – A Menina que Navegou ao Reino Encantado (No Barco Que Ela Mesma Fez) de Jau Santoli é licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial-SemDerivados 3.0 Não Adaptada.
Baseado no trabalho em http://edensaga.blogspot.com.
Perssões além do escopo dessa licença podem estar disponível em http://edensaga.blogspot.com.
Gostei muito da sua resenha, e da outra capa <3
ResponderExcluirtambém fiz uma em meu blog: http://donnaflaviaa.blogspot.com.br/2013/03/a-menina-que-navegou-ao-reino-encantado.html
Aguardo seu comentário!