Como vamos?
Hoje, trago para vocês a resenha de “A Última Nota”,
livro escrito pelos autores brasileiros Felipe Colbert e Lu Piras. Não sei se
já comentei antes, mas não costumo ler muitos romances de escritores nacionais,
salvo algumas exceções como Raphael Draccon, Eduardo Spohr e Luis Eduardo da
Matta. Muitas vezes fico com o pé atrás em relação aos nacionais, ficando em
dúvida se são bons, se valem a pena ser comprados e coisas do tipo. Então,
quando compro um é porque alguma coisa realmente me convenceu aí.
Felipe Colbert e Lu Piras no lançamento do livro |
“A Última Nota”
apareceu para mim como uma brisa de verão. Veio para suavizar e dar uma pausa nas
leituras mais compridas e densas que eu estava tendo ultimamente. Surgiu,
assim... ao acaso.
Após o Natal Literário,
alguns amigos tinham se planejado para ir até o lançamento deste livro que vos
falarei mais adiante. E eu, querendo mais curtir a companhia deles que dos
autores propriamente ditos, fui junto. Pegamos uma chuva do cão, mas chegamos.
Demorou algum tempo antes de eu poder dizer a mim mesma: “Ok,
vale a pena arriscar e comprar”. Fiquei namorando o bendito por um certo tempo.
Parava pra comer, via o livro. Parava pra conversar e folheava mais páginas.
Colhia opiniões e passava a mão na capa. Tirava fotos no evento e ia olhar mais
um pouco. E no meio desse vai e volta, também pude conversar um pouco com Lu
Piras. O carisma de ambos os autores foi a gota final para eu me decidir em comprá-lo.
Dito tudo isso, vamos à resenha.
É um livro curto, rápido de ser lido. Terminei-o em
dois dias.
Tem um ritmo bem gostoso, a escrita tem uma cadência própria que fez
minha leitura fluir suavemente. E quando digo suavemente não é porque a estória
não teve seus momentos de tensão, mas, é no sentido de que a escrita não tinha
muitos “trancos” e eu não precisava parar para tentar entender a frase.
A personagem principal é Alicia Mastropoulos. Ela é
de descendência grega, estudiosa e apaixonada por Música. Eu ri em vários
momentos com essa criatura, achava engraçado que mesmo em momentos mais tensos
e um tanto desesperadores ela dava um jeito de tirar um lado cômico da
situação, mesmo que sem querer. Ri muito também com a melhor amiga dela, Carol
(minha xará!), que tem um jeito meio despojado de ser. Senti falta de ter mais
momentos junto dela sem ser somente na escola de música.
Na verdade, fiquei com um desejo de que o livro
fosse mais longo, de que as relações entre as personagens pudessem ser mais aprofundadas,
sabe? Acho que a estória¹ é bem boa, com uma trama interessante e que instiga a
curiosidade. Só que o livro é tão curto e rápido que não deu tempo, para mim ao
menos, de fincar as raízes com as personagens da estória. É como se faltasse
uma certa costura.
Tentarei explicar: imagine uma ilustração em processo
de ser desenhada. Você começa por um esboço e, aí, quando fica mais ou menos
satisfeito, começa a pintar as partes que estão em branco. A pintura não é só
passar, por exemplo, um lápis azul e pronto, tem toda uma escolha de como vai
usar essa cor... se vai fazê-lo mais escuro ou mais claro, mais fino ou mais
grosso... São esses detalhes que vão dando consistência e corpo ao seu desenho.
A sensação que me fica é que “A Última Nota” tem um desenho pronto e tem
suas belas cores. O que parece faltar são esses degradês entre cada cena e entre as personagens.
Um ponto legal é que a gente vai conhecendo um pouco
da cultura grega também, dos costumes, da culinária. Isso fica bem presente
quando Alicia se relaciona com seus pais; são cenas que mostram as dissonâncias
que acontecem entre as gerações e as culturas grega e brasileira. Dona Artêmia
(a mãe) é um tanto rigorosa no quesito de se manterem as tradições gregas na
família. Ri muito e fiquei puta em vários momentos, porque é uma experiência
que eu tenho parecida com a de Alicia, pois descendo de taiwaneses, então,
dentro de minha criação há essa mistura dos costumes de lá e dos costumes
daqui.
No livro todo, tem várias ilhas de acontecimento que
vão se encontrando: os pais, a faculdade de música, a avó, o passado e,
especialmente, Sebastian. Ele é um cara que surge do nada e vai fazendo Alícia
se sentir toda bagunçada. É uma estória romântica bem gostosa de ler. Faz a
gente ter mais vontade ainda de se apaixonar! A gente consegue até prever por
onde os acontecimentos andarão, mas o que vale, pelo menos nesse caso, é como o
escritor vai te conduzir pela estória, é como todos esses acontecimentos que
você sabe que irão acontecer serão contados a você, leitor.
Num primeiro momento, depois de terminar de ler, achei
que o livro não tinha muitos momentos de clímax. No entanto, me lembrei que, antes
dele, eu estava lendo livros de literatura fantástica, então o estilo é
diferente. “A Última Nota” fala sobre esses momentos de transição da vida, em
que algo novo surge e precisamos nos rearranjar para lidar com isso. Não é uma
estória de proporções grandes como “Guerra dos Tronos”, mas não é por ser pequena
que deixa de ser interessante.
Porque, na verdade, ela fala daquilo que é o
mais simples, complexo e essencial da vida: o amor.
Amor com os pais e os avós... com os amigos... com alguém especial... e com aquilo que nos move pelo mundo aí a fora.
Alicia e Sebastian quando ficarem velhinhos rsrs |
Critérios de Avaliação
a) Arte da Capa:
Uma bela capa, foi uma das primeiras coisas que me atiçou a curiosidade.
Quando vi de perto, percebi que tinha mais detalhes do que tinha imaginado a princípio.
b) Trama:
A trama é bem desenvolvida e a leitura flui sem problemas. O enredo é interessante e desperta a curiosidade. As páginas vão se virando sozinhas. Contudo, como comentei acima, parece faltar um certo degradê nos acontecimentos, nas personagens... É que nem sopa, para ficar gostosa, ela precisa encorpar e ser cremosa, se não fica um caldo meio ralo...
c) Caracterização das Personagens:
As personagens são cativantes, algumas nem tanto (vide Theo, namorado de Alicia). Talvez, pelo fato do livro ser curto, não tenha dado tempo de desenvolver mais as personagens, além de Alicia. Fiquei com vontade de conhecer mais cada um deles.
d) Qualidade do Livro (papel, letra, erros, etc):
A qualidade do livro é ótima. A capa não é nem nome e nem dura demais, é prática e fácil de se manusear. O papel é liso e de cor creme claro, deixando a leitura agradável aos olhos e às mãos. A diagramação das páginas e o tipo de letra também estão na medida certa de conforto.
e) Comparação com outras obras do gênero:
Segue um certo padrão das estórias românticas, é possível prever mais ou menos o rumo dos acontecimentos, no entanto, isso não torna a obra menos interessante.
Nota: 4,5
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¹Sei
que, de acordo com as novas normas gramaticais, o correto seria “história”, mas
como sou muito teimosa e não concordo com isso, continuo utilizando o termo “estória”.
Explico o motivo me apoiando nas palavras de Rubem Alves: nos diz que a "'história' é entidade do mundo de fora, o que aconteceu no tempo e não acontece nunca mais. A 'estória' é entidade do mundo de dentro, não aconteceu no tempo porque acontece sempre".
[RESENHA] - "A Última Nota" de Carolina Feng é licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial-SemDerivados 3.0 Brasil.
Baseado no trabalho em http://edensaga.blogspot.com.br.
Perssões além do escopo dessa licença podem estar disponível em http://edensaga.blogspot.com.br.
Carol, a resenha está maravilhosa!
ResponderExcluirVocê encontrou o ponto de equilíbrio na sua resenha e expôs suas impressões com objetividade e fundamento. Por isso, adorei!
Além da sua avaliação técnica, também pude perceber o quanto você se envolveu com a história a ponto de desejar conhecer mais do universo dos personagens. Confesso que foi muito difícil para mim, separar-me deles. Justamente por isso... nos apegamos a eles e queremos conhecê-los mais a fundo.
Lindaaaa! Foi um prazer conhecê-la! Espero que nos encontremos outras vezes! Vamos sacudir os eventos literários!!!
Beijocas,
Lu
www.lupiras.com
P.S.: Esqueci de comentar a coisa fofaaaaaaaaa dessa foto da Alícia e do Sebastian velhinhos!!! DEMAIS!!!
ExcluirPoxa, obrigada, Lu! Que bom que você gostou.
ExcluirEssa é uma das coisas que eu acho mais difícil numa resenha, tentar passar minhas impressões e com embasamento... sem ficar no "eu gosto" apenas. Não que seja errado, mas quando a gente vai ler uma resenha quer saber porque a pessoa gostou, né? hehehe
A foto dos velhinhos é demais mesmo, né? Estava pesquisando por "amor" no google e me deparei com ela rsrs
Um feliz natal e, logo mais, um ótimo ano 2013.
beijos!