Olá vocês! Hoje vamos falar sobre mais um livro nacional.
A Ordem dos Lendários é o primeiro livro de R.R. Mandú, e, também, o primeiro da saga que tem ares de trilogia. O segundo livro (Os Doze Lendários) já está, inclusive por aí dando as caras e mostrando que Mandú tem muita historia pra contar.
A Ordem dos Lendários conta a historia de um grupo de crianças que foi selecionado para o Acampamento Desbravadores do Conhecimento. Um lugar muito especial onde, todos os anos, crianças selecionadas vão para entender sobre o passado da Terra e se inspirar em garantir o seu futuro. As crianças são bem recebidas passam a escutar a historia de como o mundo chegou a Terceira Guerra Mundial e como o Lendário Elemental conseguiu restaurar o equilíbrio do mundo dando fim a Guerra e ao terrível Khaos que queria destruir toda a harmonia e mergulhar o universo no caos.
Bem, aqui chegamos ao primeiro ponto: Logo no inicio somos apresentados a um mundo utópico, perfeito e pacífico no futuro. As crianças chegam ao acampamento e escutam a historia da boca do próprio Gabriel: Lendário Elemental e personagem principal da trama. De modo que sabemos, desde o inicio, o final. Esse artifício é bastante comum em filmes, series e livros, mas precisa de cuidado, já que o espectador já fica com uma ideia na cabeça e precisa ser surpreendido. A expectativa aumenta pois o leitor passa a imaginar vários caminhos possíveis pra se chegar àquele final.
Talvez por isso eu tenha me incomodado com o ritmo da historia e com algumas outras coisinhas. Mas antes de falar dos incômodos, vamos falar do que é legal.
Para mim, desde o inicio, foi clara a mensagem principal da obra: Cuidar do meio ambiente.
O futuro utópico com capeamentos que acumulam e proveem energia pra os automóveis e o retorno do vilão mostram muito bem isso. Khaos só consegue se libertar por que o homem não soube cuidar do mundo e não respeitou a natureza. Todo o livro é cheio de mensagens de ecologia, sustentabilidade e advertências sobre o perigo de destruir o lugar em que vivemos. Achei isso muito legal. Não é um pequeno episódio de desenho infantil, um folheto ou algo assim. É uma saga inteira que tem como plano de fundo a ecologia e o cuidado com o mundo sem usar dos clichês comuns nesse caso.
Outra coisa que é muito legal é a carga de referencias/conteúdo que Mandu apresenta nesse livro. A obra é cheia de referencias a cultura oriental, principalmente a japonesa. Percebe-se que o autor mergulhou nesse mundo e fez o máximo pra que seus leitores pudessem sentir tudo o que ele sentiu quando pesquisava. Dá pra perceber muito da cultura japonesa, mas Mandu usa de várias outras culturas para demonstrar como os Lendários estão presentes desde o inicio dos tempos. Achei bem criativo e funcional o modo como ele juntou essa miscelânea de culturas (inclusive indígenas) de um jeito que pareceu bem plausível para a historia.
Mas toda essa carga de conteúdo acabou, pra mim, atrapalhando no desenvolvimento do livro em si. As paginas são cheias de explicações e diálogos enormes. Todos os diálogos tem algo a acrescentar, seja para a historia como explicação ao Gabriel ou como lições de vida.
Acho que é bom que o livro traga ao leitor coisas pra pensar, que acrescente. Mas também acho que esses momentos devem ser reservados a cenas emblemáticas que fiquem gravadas na cabeça de quem lê. O resto do livro deve ser preenchido com outras coisas que façam com que o leitor se identifique com a historia ou que se divirta com ela. Infelizmente, em A Ordem dos Lendários, os diálogos e cenas são sempre cheios de lições ou explicações. Senti falta de cenas divertidas, de cenas de ação e de romance. Não é que não tenha, vejam bem, o livro tem romance, e ação e aventura. Mas até essas cenas são preenchidas com as lições. Todos os diálogos são sérios e profundos. Tudo no livro está ali pra contribuir pra formação de Gabriel em Lendário Elemental.
Por falar nisso aqui estão outros dois pontos que me incomodaram. Primeiro: a facilidade e providencia das coisas. Gabriel não tem desafios a vencer e as coisas estão sempre à mão. Os objetos míticos estão em bibliotecas municipais e lojas de shopping, e seus guardiões (que estão mantendo as coisas seguras por séculos sem fim) simplesmente entregam os tesouros mais preciosos da humanidade, sem nenhuma pergunta ou teste pra ver se Gabriel é mesmo o Salvador que eles esperavam a tanto tempo.
Segunda: A aceitação dos fatos pelo próprio Gabriel e pelos outros personagens. O destino do mundo está em jogo enquanto suas vidas estão mudando para sempre. Mas eles simplesmente aceitam sem nenhum questionamento ou resistência. Infelizmente, senti que a profundidade que sobra nas lições de vida, falta a própria historia e as emoções dos personagens.
Demorei um tempo pra ler A Ordem dos Lendários. A escrita de Mandu é bem baseada na norma culta de escrita. Senti a leitura travada em vários momentos e me cansei em outros. Talvez pela quantidade texto dos diálogos, talvez pelo modo de escrever, ou talvez por causa dos vários adjetivos que pontuavam as frases.
Critérios de Avaliação:
a) Arte da Capa: A capa é feita em papel sulfite laminado. Pra falar a verdade não gostei. Faltou equilíbrio entre as formas e identidade entre os elementos. A tipografia usada na lombada está diferente da tipografia usada na frente, por exemplo. O titulo não consegue chamar muita atenção devido aos outros elementos e o equilíbrio de cores. A contra-capa também deixou a desejar. Traz um caixa amarela com uma sinopse muito grande pra prender a atenção por muito tempo. Infelizmente, acho que a capa não contribui para o livro.
b) Trama: A historia segue entre explicações e acontecimentos. Falta ritmo na narrativa e dinâmica nas cenas. A dinâmica que pude perceber é a volta para o presente onde as crianças estão ouvindo a historia. Mas a historia mesmo não tem momentos de expectativa e explosão. É so uma curva crescente da evolução de Gabriel.
Outro coisa, que apontei lá em cima, é que, quando se “sabe” o final, toda a expectativa fica no meio da historia, você espera que ela te surpreenda e te segure a todo o tempo, mas a trama do livro se desenvolve sem surpresas.
c) Caracterização dos personagens: Não consegui me identificar ou torcer por nenhum dos personagens. Nem mesmo pelo Gabriel. Todos tem a mesma maneira de falar e de se portar, sempre providenciais para o crescimento do protagonista. Até mesmo as crianças falam da mesma maneira que os adultos. Senti falta da individualização e das particularidades que cada um podia ter.
d) Material: O livro não tem colofão, de modo que não tenho como confirmar o que vou dizer. Mas é feito com papel pólen (aquele amarelinho e poroso) o que ajuda no peso, na visualização (branco cansa os olhos) e na hora de passar a pagina, já que uma não gruda na outra.
A tipografia tem serifa e proporção, então permite ler sem cansar. As margens são bem distribuídas e o livro não tem nada a mais que seja só dele.
e) Comparação com as outras obras do gênero: A Ordem dos Lendários se destaca pela mensagem ambiental e pela construção de referencias. Além disso fica faltando algo. A jornada do Herói é apresentada, sem cenas engraçadas ou emocionantes. É a historia do Lendário Elemental em foco e nada mais. Não consegui me encantar pelos personagens ou pela mitologia ou pelo mundo, por nada. Infelizmente achei que faltou um pouco mais de originalidade e de exploração daquele universo.
Nota: 1
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