Vi O Trono do Sol pela primeira vez numa livraria no centro
de São Paulo. Ele estava em destaque na primeira prateleira, ao lado d’O Festim
dos Corvos, com uma capa muito bonita e uma frase do próprio George Martin
elogiando o livro. Não é preciso dizer que eu fiquei pra lá de curioso e só
descansei quando tive o livro e mãos e comecei a ler.
Bem, a trama se passa em Nessântico, um império que se estende por quase todo o mundo conhecido, mais ou menos que nem Roma foi em seu tempo. Mas tem umas pequenas diferenças. A sociedade é matriarcal, ou seja, a mulher tem mais “importância” do que o homem. A religião também é muito importante nesse mundo, chegando a ser uma força tão grande quanto a própria Coroa. A proposito os governantes máximos desse império se chamam Kraljika ou Kraljiki. E agora chegamos a uma encruzilhada. O autor (S. L. Farrell) fez uma pesquisa enorme pra escrever este livro. Ele inclusive cita alguns livros que leu logo no inicio, na parte dos agradecimentos.
E chegamos ao primeiro ponto. Com tanta pesquisa, Farrell
conseguiu criar um mundo completo e complexo. Dá pra perceber que o cara pensou
em tudo. A trama tem bagagem histórica própria, com personagens históricos,
golpes e passado politico. A politica e a organização social também são
diferentes do que estamos acostumados. A religião foi bem pensada, tendo a
hierarquia e a mitologia bem descritas no decorrer da trama. Todas as coisas são
bem amarradinhas, sem espaço para pequenos erros ou pontas soltas. Dá pra ver que
o autor realmente pesquisou muito para criar um mundo inteiramente novo a partir
das referencias que teve.
Como já disse o mundo é inteiramente diferente e completo. Existem
algumas referencias, como a semelhança com a França, que o próprio autor cita
nos Agradecimentos. E outras que vamos percebendo ao longo do texto nesses
momentos em que comparamos a coisa escrita com alguma outra que já conhecemos
para poder entender a ideia do autor. Essa inspiração na França também está
muito presente na nomeação dos lugares e pessoas. Mas Farrell não apenas nomeia
lugares e pessoas, mas também dá nomes novos a vários outros elementos
cotidianos. Por exemplo: Na trama Pai é chamado de Vatarh e Mãe é Matarh.
Existem vários outros nomes inventados ou modificados pelo autor durante a historia. Nomes de coisas importantes que se repetem sempre, mas você não sabe o que significam.
O fato é que o leitor simplesmente é inserido na historia e
segue o curso da trama. Não existem muitas explicações ou partes introdutórias.
E você precisa entender as coisas por si só, se acostumar com os nomes
diferentes e seguir em frente. Isso normalmente é uma coisa legal em livros, as
vezes perco a paciência com autores que descrevem ou explicam demais. Mas nesse
caso eu achei que houveram explicações de menos.
Então, se você pretende ler O Trono do Sol preste bem
atenção nessa dica: Existe um Apendice que te ajuda a entender o livro no final
dele, não esqueça dele! Você pode precisar. A orelha do fundo do livro também tem
uma parte picotada. Essa parte que dá pra destacar pode ser usada como marca
paginas e tem uma relação com os principais termos usados durante a narrativa. Então
quando você tiver duvida sobre algum termo não precisa ir ao final do livro, é
só recorrer ao seu marca páginas. ;D
Agora voltando ao livro. A trama é cheia de conspirações,
traições e reviravoltas. Algumas são bem previsíveis, outras te pegam de surpresa.
Achei legal que o autor, além de se preocupar em criar um mundo totalmente
novo, deu a devia importância para a historia de fato. A narrativa é bem
encorpada e tensa por causa desses momentos.
Os personagens também são bastante complexos. É legal que
todos tem a personalidade bem definida mas as atitudes são imprevisíveis, então
há sempre a vontade de saber o que vem a seguir. Os capítulos também são
divididos por personagens, que nem Guerra dos Tronos. Eu sei que a intenção era
não fazer nenhum personagem como protagonista da historia, mas para mim isso não
deu muito certo. A historia tem uma protagonista: Anna co’Seranta. Uma
personagem que começa fraca e vai crescendo aos poucos, enquanto precisa
aprender a lidar com jogos de poder e influencia.
O romance aparece mas não tem muito destaque. Já a ação tem
um pouco mais de participação, mas não muita, durante a trama, se intensificando
com o decorrer da historia. Mais para o final a adrenalina cresce e os momentos
de ação tomam grandes proporções . Mas até mesmo esses momentos são apenas
resultados das manobras politicas, conspirações e intrigas que acontecem no
livro e tem o maior destaque.
A magia também está presente, e como tudo no mundo de
Nessântico, é diferente. N’O Trono do Sol a magia está intimamente ligada à religião
e a sociedade. Achei incrível como na cidade tudo é feito por magia, e
consequentemente, pela Fé. Pra se ter uma ideia, até os postes de luz, os
carros e o tratamento de esgoto são feitos com magia.
Bem, no final de tudo e apesar de meus desagrados, O Trono
do Sol é um livro que vale a pena ler. Você pode ter alguma dificuldade com os
nomes diferentes, pode não se divertir tanto e até chegar a ficar entediado as
vezes. Mas vai gostar das surpresas, se envolver nas tramóias e torcer por seus
personagens preferidos. Também vai perceber o quanto a obra consegue ser completa
dentro de seu universo e vai admirar o Autor por ser tão cabeção (no bom
sentido tá?). E quando terminar o livro, você, como eu, vai ficar com vontade
de ler o próximo só pra saber o que mais vai acontecer.
Agora vamos aos
Critérios de Avaliação
a) Arte da capa: A capa tem uma ilustração do Trono do Sol
brilhando. É uma ilustração muito bem feita que, inclusive, foi um dos motivos
pelos quais eu comprei o livro. O titulo tem uma tipografia própria, imponente.
Mas, para mim, tem letras demais. São usadas 3 tipos diferentes de fontes só na
capa e o livro tem títulos e subtítulos. Apesar de tudo, a citação de George
Martin na capa foi uma bela jogada.
b) Trama: A narrativa conta com conspiração, traição,
sedução e varias reviravoltas. É uma ótima mistura, mas apesar de tudo eu não
fiquei preso pela leitura. Farrell também divide os capítulos por personagens e
ciclos. Achei boa a ideia dos ciclos porque funcionam como capítulos durante a
narrativa, mas achei desnecessária a divisão por personagens.
c) Caracterização dos personagens: Os personagens tem
personalidades bem delimitadas, o que torna fácil a identificação dos leitores
com eles. Porem as atitudes que vão tomar nas situações que passam são imprevisíveis.
As descrições das roupas e feições também merece destaque, o autor consegue nos
fazer imaginar muito bem os personagens sem precisar ser prolixo.
d) Qualidade do livro (papel,
letra, erros e etc.): Primeira coisa: esse livro tem colofão¹! Certo só isso já
me deixa bem feliz, já que a maioria dos outros ignora essa parte na hora de
fazer o livro impresso. Bem, voltando, o papel utilizado é meio poroso e
amarelado. Esse tipo de papel ajuda na hora de virar as paginas (elas não
teimam em virar juntas) e deixa o livro mais leve, o que é ótimo, pois um livro
desse tamanho pesado ia ser um suplicio. A tipografia usada é serifada, não
muito redonda, mas seguindo as proporções áureas, então dá pra ler sem se
cansar muito. As margens externas dão espaço para os dedos, mas eu achei as
internas pequenas demais, você precisa abrir mais o livro pra poder ler. Uma
coisa diferente, mas legal, é que esse livro tem uma borda que lembra pincel e
papel velho em todas as paginas. A capa é de brochura em papel cartão com
laminação fosca, mas tem verniz localizado no titulo, então dá pra ficar
passando o dedo por horas...
e) Comparação com outras obras do
gênero: É uma historia diferente em um mundo totalmente diferente. Utiliza mais
conspiração do que ação e aventura. Mas não está entre os meus preferidos,
apesar de não ser ruim.
Nota: 3,5
1 – Colofão é um mini paragrafo
que fica na ultima pagina do livro. Ele mostra questões técnicas como tipo e
gramatura do papel, tipografia utilizada e gráfica, ano e lugar em que foi impresso.
Resenha - O Trono do Sol de Jau Santoli é licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial-SemDerivados 3.0 Não Adaptada.
Baseado no trabalho em http://edensaga.blogspot.com.
Perssões além do escopo dessa licença podem estar disponível em http://edensaga.blogspot.com.
Ótima resenha, Jau!
ResponderExcluirA capa do livro é lindíssima e foi uma das coisas que mais me atraiu, além da frase impactante de George Martin, é claro rsrs
Fiquei folheando ele por algum tempo, mas não me conquistou muito não...
Pra ser sincera, dependendo do livro, tenho certa preguiça para ler estórias que se foquem muito em organizações políticas, guerras e temas assim... e acrescido a isso, vi a quantidade de nomes e palavras diferentes que tinha nas páginas e fiquei com mais preguiça ainda...
Tinha deixado ele de lado, mas com sua resenha, deixo bem aberta a possibilidade de lê-lo mais adiante =)
Terminei de ler esse lvro há alguns dias e simplesmente ADOREI! Depois dos primeiros capítulos,que normalmente são mais lentos, devorei o livro . Desde as crônicas do gelo e do fogo nunca tinha ficado tão envolvida por um livro como esse. Ele tem todos os ingredientes para uma boa trama: política, religião,guerras, mistério,suspense. Quando comecei a lê-lo, confesso que fiquei meio desanimada por causa dos nomes estranhos que aparecem, mas com o apêndice que há no final com as explicações , ficoutudo mais fácil. E o mais legal, que diferente das Crônicas do Gelo e do fogo (que nunca conclui uma história) esse acontece, embora deixa um gancho para uma continuação. Ou seja, se você não quiser ler o próximo volume, não vai fazer diferença. Quanto a mim,não vejo a hora de lançarem o próximo volume.
ResponderExcluirFui a livraria comprar um determinado livro, mas ao ver a capa do O Trono do Sol não pensei duas vezes e comprei (aliás, comprei os dois volumes). A leitura começou a ficar boa por volta da página 50, quando os prefixos empregados começam a fazer sentido. Estou na metade do livro e não sabia do Apendice KKK obg.
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